FÉLIX
PACHECO
José FÉLIX Alves PACHECO nasceu em
Teresina-PI em 02 de Agosto de 1879. Foi político, jornalista e poeta, também o
primeiro piauiense a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Viveu a sua infância e adolescência na terra
natal, mas a maior parte da sua vida foi construída no Rio de Janeiro, para
onde partiu a fim de seguir carreira militar (por desejo do pai). Depois de
abandonar o Colégio Militar, entrou para a Faculdade de Direito, iniciando- se
logo depois na carreira jornalística, atuando como diretor- proprietário do
Jornal do Comércio.
Félix Pacheco foi deputado federal, em quatro
legislaturas, e em 1921 foi eleito senador, tendo em seguida exercido as
funções de Ministro das Relações Exteriores, no Governo de Artur Bernardes. Na
área da cultura era uma importante figura nos meios intelectuais do país,
continuador do movimento Parnasiano, cultivando mais tarde o Simbolismo.
Integrou o grupo de escritores da Revista Rosa Cruz.
Reunindo toda sua obra no volume POESIAS, Félix
Pacheco confessa que seu livro, contendo composições datadas de mais de trinta
anos, surgia ‘‘velho e atrasadíssimo’’, reconhecendo que também andava muito
diferente das correntes da época, isto porque, das 207 composições, apenas 11
não são sonetos.
Dentre
os mais de 200 trabalhos por ele editados, cita- se as seguintes obras:
Poesias: Chicotadas, 1897; Via- Crúcis, 1900; Mors- Amor,
1904; Lua de Amor, 1906; Poesias, 1914; Ignesita, 1915; Marta,
1947; Tu, só Tu...,1917; No limiar do Outono, 1918; Lírios
Brancos, 1919; O Pendão da Taba Verde, 1922; Estos e Pausas,
1920; Em Louvor de Paulo Barreto, 1922; Poesias, 1932; A
aliança de prata, 1923 e Descendo a Encosta.
Pertenceu também, à Academia Piauiense de
Letras, mas não tomou posse do Sodalício por motivo de doença. Foi um escritor
exato, talentoso, sóbrio na linguagem e de estilo enxuto e puro. Morreu em 06
de Dezembro de 1915.
EM LOUVOR DO
SONETO
(Página de abertura do livro ‘‘No Limiar do
Outono’’ publicado em 1919 e dedicado à Academia Piauiense de Letras)
Outros se percam
no marulho intenso,
E a lira afinem
pelo canto vasto.
Eu, no meu lindo
cárcere, me basto,
E não o julgo
estreito, mas imenso.
Nestes curtos
grilhões nunca me gasto.
Digo tudo que
quero, e quanto penso,
Satisfeito das
pérfidas que venço,
E orgulhoso dos
órbices que afasto.
Há quem prefira
os poemas dilatados,
Amplas visões em
versos numerosos,
Onde a rima
extravase em grande brandos.
Eu, porém, a
outros moldes me remeto,
E nunca tive um
gozo entre os meus gozos
Que não coubesse
dentro de um soneto!
A PACIÊNCIA
III
Ah! Como te amo
e prezo, doce fada,
Ancila bela, que
consola tanto,
Rainha humilde,
espairecendo a um canto,
Harmoniosa,
discreta, desvelada!
Ninguém te
enxerga, e tu sempre na estrada
De cada casa, e
pronta, com o teu manto,
Para acudir, se
te chamar o pranto,
E alguma dor
quiser ser minorada!
Ai do infeliz
que nunca te possui,
Nem pede o teu
conselho, e te dispensa!
Esse será não
cego só, mas louco...
E, um dia,
enfim, ao ver que tudo rui,
Lamentará sua
desgraça imensa,
Evitável contigo
e com tão pouco...
IV
Irmã gêmea da
fé, disfarce mudo
Da própria
Caridade e da Esperança,
Não há no mundo
inteiro outra bonança,
Que valha a tua
como força e escudo.
É nessa mão de
rosa e de veludo
Que o homem, nas
horas más, pousa e descansa,
A procurar uma
carícia mansa,
Contra a
incerteza, que domina tudo.
A linguagem que
falas é um conselho
Tecido
calmamente sobre as horas
Para ensinar
melhor o que nos vem.
Feliz quem abre
e lê teu evangelho!
Bendita sejas
tu, que nunca choras,
E ensinas sempre
a não chorar também
ALIÇÃO DA VIDA
A
vida é sempre assim: nasce, desaparece,
E
nunca o ser humano a governa ou deslinda.
O
tempo avança, avança, e o sofrimento cresce,
Cresce
cada vez mais, como uma sombra infinda.
Tudo
que é graça e amor apaga-se, fenece,
E
o que impera amanhã são sempre as mágoas ainda.
Não
há mudar a sorte. O bálsamo da prece,
Afinal,
é somente o que nos salva e blinda.
Nascem
cardos na estrada. O coração sangrando
Palpita
no estertor de uma agonia lenta.
O
riso, o sonho, a luz, vão- nos abandonando...
Só
pode, pois, triunfar quem vence esses horrores,
E,
na calma da fé, suporta, estóico, e enfrenta
A
sucessão fatal e intérmina das dores!
OUTONO
Amo,
sim, e amarei! Mas não quisera
Manter
este verão que é quase extinto.
Tudo
que agora nos meus quadros pinto
Traz
outra cor mais grave e mais austera.
Nunca
me maldisse o estio e a primavera,
Mas
abençôo o tempo que hoje sinto,
Esta
quietude sã, na qual não minto,
Outra
ilusão mais justa e mais sincera.
Quando
se desce a encosta da montanha,
No
clarão interior que então nos banha
Os
próprios dias tornam- se mais sábios.
Quadra
melhor no outono o meu segredo.
O
outono é para mim um grande dedo
Que
o silêncio do amor põe nos meus lábios.
A TRISTE DÁDIVA
Não
te prometo os céus, a terra toda,
Nem
luxo, ou fidalguias, e realezas.
Não
comerás comigo em régias mesas,
E
nem damas de honor terás em roda.
Há
de ser muito obscura a nossa boda.
Nossas
almas assim serão mais presas.
Outras
que vivam, na vaidade acesas.
E
cativas do efêmero da moda.
Não
te darei sequer um pobre sonho,
Que
o sonho é sempre, embora apaixonado,
Mera
expressão de um bem que dura pouco
Dou-
te somente um coração tristonho,
As
flores do jardim de um torturado,
E
o profundo saber da alma de um louco.
LEVÍSSIMA
Giram
no meu salão deusas e rosas
Sob
o disfarce e o nome de mulheres
Flora,
Pomona, Vênus, Diana, Céres,
E
tu também, divina entre formosas!
Cada
uma tem seu par. Só tu não gozas
A
volúpia das danças, e não queres.
Mas
que dirás, agora, se souberes
Que
a palma é tua entre as demais vaidosas?
Bailei
contigo, sim! Teu busto lindo,
Preso
até hoje ao meu, o estou sentindo,
Leve,
como aqui salta da paleta!
E
ainda ao certo não sei, vendo- te os traços,
Se
o que aperto e conduzo nos meus braços
É
um corpo de mulher ou borboleta!
Referêcias:
GONÇALVES,
Wilson Carvalho. Dicionário Enciclopédia
Piauiense Ilustrado. Teresina: Halley, 2003.
PACHECO,
José Félix. Poesias de Félix Pacheco.
Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1985. 2ª Ed.192 p.
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