18 de fevereiro de 2012

Félix Pacheco ( Vida e sonetos)


                        FÉLIX  PACHECO


José FÉLIX Alves PACHECO nasceu em Teresina-PI em 02 de Agosto de 1879. Foi político, jornalista e poeta, também o primeiro piauiense a ingressar na Academia Brasileira de Letras.  Viveu a sua infância e adolescência na terra natal, mas a maior parte da sua vida foi construída no Rio de Janeiro, para onde partiu a fim de seguir carreira militar (por desejo do pai). Depois de abandonar o Colégio Militar, entrou para a Faculdade de Direito, iniciando- se logo depois na carreira jornalística, atuando como diretor- proprietário do Jornal do Comércio.
Félix Pacheco foi deputado federal, em quatro legislaturas, e em 1921 foi eleito senador, tendo em seguida exercido as funções de Ministro das Relações Exteriores, no Governo de Artur Bernardes. Na área da cultura era uma importante figura nos meios intelectuais do país, continuador do movimento Parnasiano, cultivando mais tarde o Simbolismo. Integrou o grupo de escritores da Revista Rosa Cruz.
Reunindo toda sua obra no volume POESIAS, Félix Pacheco confessa que seu livro, contendo composições datadas de mais de trinta anos, surgia ‘‘velho e atrasadíssimo’’, reconhecendo que também andava muito diferente das correntes da época, isto porque, das 207 composições, apenas 11 não são sonetos.
 Dentre os mais de 200 trabalhos por ele editados, cita- se as seguintes obras: Poesias: Chicotadas, 1897; Via- Crúcis, 1900; Mors- Amor, 1904; Lua de Amor, 1906; Poesias, 1914; Ignesita, 1915; Marta, 1947; Tu, só Tu...,1917; No limiar do Outono, 1918; Lírios Brancos, 1919; O Pendão da Taba Verde, 1922; Estos e Pausas, 1920; Em Louvor de Paulo Barreto, 1922; Poesias, 1932; A aliança de prata, 1923 e Descendo a Encosta.
Pertenceu também, à Academia Piauiense de Letras, mas não tomou posse do Sodalício por motivo de doença. Foi um escritor exato, talentoso, sóbrio na linguagem e de estilo enxuto e puro. Morreu em 06 de Dezembro de 1915.

ALGUNS SONETOS


EM LOUVOR DO SONETO
(Página de abertura do livro ‘‘No Limiar do Outono’’ publicado em 1919 e dedicado à Academia Piauiense de Letras)

Outros se percam no marulho intenso,
E a lira afinem pelo canto vasto.
Eu, no meu lindo cárcere, me basto,
E não o julgo estreito, mas imenso.

Nestes curtos grilhões nunca me gasto.
Digo tudo que quero, e quanto penso,
Satisfeito das pérfidas que venço,
E orgulhoso dos órbices que afasto.

Há quem prefira os poemas dilatados,
Amplas visões em versos numerosos,
Onde a rima extravase em grande brandos.

Eu, porém, a outros moldes me remeto,
E nunca tive um gozo entre os meus gozos
Que não coubesse dentro de um soneto!

A PACIÊNCIA

III

Ah! Como te amo e prezo, doce fada,
Ancila bela, que consola tanto,
Rainha humilde, espairecendo a um canto,
Harmoniosa, discreta, desvelada!

Ninguém te enxerga, e tu sempre na estrada
De cada casa, e pronta, com o teu manto,
Para acudir, se te chamar o pranto,
E alguma dor quiser ser minorada!

Ai do infeliz que nunca te possui,
Nem pede o teu conselho, e te dispensa!
Esse será não cego só, mas louco...

E, um dia, enfim, ao ver que tudo rui,
Lamentará sua desgraça imensa,
Evitável contigo e com tão pouco...

IV

Irmã gêmea da fé, disfarce mudo
Da própria Caridade e da Esperança,
Não há no mundo inteiro outra bonança,
Que valha a tua como força e escudo.

É nessa mão de rosa e de veludo
Que o homem, nas horas más, pousa e descansa,
A procurar uma carícia mansa,
Contra a incerteza, que domina tudo.

A linguagem que falas é um conselho
Tecido calmamente sobre as horas
Para ensinar melhor o que nos vem.

Feliz quem abre e lê teu evangelho!
Bendita sejas tu, que nunca choras,
E ensinas sempre a não chorar também  

ALIÇÃO DA VIDA

A vida é sempre assim: nasce, desaparece,
E nunca o ser humano a governa ou deslinda.
O tempo avança, avança, e o sofrimento cresce,
Cresce cada vez mais, como uma sombra infinda.

Tudo que é graça e amor apaga-se, fenece,
E o que impera amanhã são sempre as mágoas ainda.
Não há mudar a sorte. O bálsamo da prece,
Afinal, é somente o que nos salva e blinda.

Nascem cardos na estrada. O coração sangrando
Palpita no estertor de uma agonia lenta.
O riso, o sonho, a luz, vão- nos abandonando...

Só pode, pois, triunfar quem vence esses horrores,
E, na calma da fé, suporta, estóico, e enfrenta
A sucessão fatal e intérmina das dores!

OUTONO

Amo, sim, e amarei! Mas não quisera
Manter este verão que é quase extinto.
Tudo que agora nos meus quadros pinto
Traz outra cor mais grave e mais austera.

Nunca me maldisse o estio e a primavera,
Mas abençôo o tempo que hoje sinto,
Esta quietude sã, na qual não minto,
Outra ilusão mais justa e mais sincera.

Quando se desce a encosta da montanha,
No clarão interior que então nos banha
Os próprios dias tornam- se mais sábios.

Quadra melhor no outono o meu segredo.
O outono é para mim um grande dedo
Que o silêncio do amor põe nos meus lábios.

A TRISTE DÁDIVA

Não te prometo os céus, a terra toda,
Nem luxo, ou fidalguias, e realezas.
Não comerás comigo em régias mesas,
E nem damas de honor terás em roda.

Há de ser muito obscura a nossa boda.
Nossas almas assim serão mais presas.
Outras que vivam, na vaidade acesas.
E cativas do efêmero da moda.

Não te darei sequer um pobre sonho,
Que o sonho é sempre, embora apaixonado,
Mera expressão de um bem que dura pouco

Dou- te somente um coração tristonho,
As flores do jardim de um torturado,
E o profundo saber da alma de um louco.

LEVÍSSIMA

Giram no meu salão deusas e rosas
Sob o disfarce e o nome de mulheres
Flora, Pomona, Vênus, Diana, Céres,
E tu também, divina entre formosas!

Cada uma tem seu par. Só tu não gozas
A volúpia das danças, e não queres.
Mas que dirás, agora, se souberes
Que a palma é tua entre as demais vaidosas?

Bailei contigo, sim! Teu busto lindo,
Preso até hoje ao meu, o estou sentindo,
Leve, como aqui salta da paleta!

E ainda ao certo não sei, vendo- te os traços,
Se o que aperto e conduzo nos meus braços
É um corpo de mulher ou borboleta!











Referêcias:

GONÇALVES, Wilson Carvalho. Dicionário Enciclopédia Piauiense Ilustrado. Teresina: Halley, 2003.
PACHECO, José Félix. Poesias de Félix Pacheco. Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1985. 2ª Ed.192 p.

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